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Noticias - Abilio Diniz

ABILIO, MAIS INFORMAL: "Passei anos usando paletó. Hoje, acho desconfortável"

'O sucesso nos acomodou'

Em entrevista exclusiva, Abilio fala do novo momento 
do Pão de Açúcar

O que mudou na empresa desde dezembro passado?
Quando decidi pela profissionalização, todo mundo falava: "Ah, não tem profissionalização com o Abilio presente, ele põe o dedo em tudo." Sabendo disso, eu dei muita liberdade ao executivo principal. Você não pode nunca dar liberdade absoluta ao CEO. Dessa forma, a tendência é ele dar pouca informação e não discutir os caminhos da empresa com quem está em cima. É preciso uma profissionalização com uma governança corporativa que realmente funcione.

Foi dada muita liberdade aos dois presidentes anteriores, Cássio Casseb e Augusto Cruz? 
Não queria me fixar em nomes, mas na tese daquilo que aprendi. É preciso ver qual foi a omissão do conselho e dos acionistas.

Qual a razão da mudança no grupo?
Voltamos às origens. A modificação que Cláudio [Galeazzi, o atual CEO] liderou, com a diminuição de mais de 20 diretores neste ano, não foi feita para reduzir despesas, mas para simplificar e buscar mais eficiência. O que eu mais criticava aqui era o excesso de reuniões. O número caiu para menos da metade. Tínhamos excesso de poder e poder dividido. Os executivos montavam exércitos, um para bater o outro aqui internamente. Nos últimos anos entrou muita gente nova e até desnecessária. É uma coisa inacreditável.

Como isso afetou a empresa? 
De muitas formas. Tivemos problemas seríssimos, com falta e excesso de estoque. A pior coisa que pode acontecer é o cliente ir à loja e não encontrar o que procura. Não apenas porque se perde venda, mas por causa da imagem que fica para o cliente. Crescemos bastante nos anos anteriores e houve um pouco de acomodação.


SEXTA-FEIRA, DIA 22 DE agosto, 10 horas da manhã. O empresário Abilio Diniz entra em sua sala de reuniões na sede do Grupo Pão de Açúcar, região central de São Paulo. Minutos antes, ele ficara R$ 100 mil menos rico. Maureen Maggi acabara de conquistar a medalha de ouro no salto em distância na Olimpíada de Pequim - e o Pão de Açúcar, um de seus patrocinadores, havia prometido um prêmio extra em caso de vitória. Mas Abilio nem sequer tocou no assunto. Bem-humorado, metido em uma camisa pólo azul, calça jeans e tênis, pouco lembrava o empresário sempre vestido com ternos escuros bem cortados, camisas impecavelmente brancas e gravatas discretas e elegantes. "Passei anos usando paletó o dia inteiro", conta ele. "Hoje, quando preciso vesti-lo, acho desconfortável.

MENINO, COM OS PAIS, E NO JUMBO, NOS ANOS 80. "SOU UM BOM ATIVO DO GRUPO", DIZ ABILIO

FOTOS: DIVULGAÇÃO

A gola fechada da camisa me incomoda." A descontração de Abilio não parece pontual. Nos últimos tempos, o aspecto sisudo que sempre o caracterizou foi sendo substituído por uma atitude mais jovial, segundo diversas pessoas de seu convívio ouvidas por DINHEIRO. "Ele está em outro nível de autoconhecimento e preparo emocional. Não é só discurso. Quem trabalha com ele assiste a esse processo. Ele se motiva com o crescimento dele e da empresa", afirma Maria Aparecida Fonseca, a Cidinha, diretora de recursos humanos que deixou o grupo depois de 24 anos de casa. "Ele não tem vergonha de admitir que vive em outro momento."

A jornada de trabalho continua dura, mas ele tem hoje outras fontes de satisfação. "Estou fazendo um monte de coisas que nada têm a ver com negócios. Não posso escrever um livro e falar sobre as coisas em que acredito se estiver vivendo de forma diferente", afirma ele, referindo-se a Caminhos e Escolhas - O Equilíbrio para uma Vida mais Feliz, obra de sua autoria lançada quatro anos atrás. "Não dá para viver tenso e cabisbaixo. É preciso buscar uma forma alegre de se viver." Abilio tem procurado - e encontrado - formas de expressão para esse novo momento em sua vida. Recentemente ele concluiu três episódios-piloto de um programa de tevê apresentado por ele. Ainda está em fase de testes, mas o título parece ser definitivo: "Escolhas, com Abilio Diniz". Com duração de cinco minutos, possui temas variados, mas sempre abordando assuntos referentes a qualidade de vida e bem-estar. Um deles fala sobre carboidratos. Outro discorre a respeito de amor. E o terceiro discute como dizer não no ambiente de trabalho e na vida pessoal. "Escolhas" pode ir ao ar em algum canal de tevê ou pela internet. "Isso dá um trabalho, nossa!", comenta Abilio. "São horas e horas de gravação para chegar nisso."

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